O livro “30 Crónicas”, de Emanuel Jorge Botelho, foi lançado ontem na Livraria SolMar Artes & Letras, em Ponta Delgada. De pequenas dimensões e com edição da Publiçor, Editores, o livro é composto por 30 textos, publicados no semanário Terra Nostra, entre Fevereiro de 2006 e Setembro de 2008, e intercalados por três desenhos inéditos do conhecido e reputado pintor Urbano.
Para quem desconhece, Emanuel Jorge Botelho nasceu em Ponta Delgada a 11 de Agosto de 1950, tendo publicado, ao longa da sua vida, aMARgura (1979), Full Auto Shut off & ETC (1981), Poemas do Arremesso ou O Elogio da Pedra (1982), Cesuras (1982), Sardas & ETC (1984), Casos de Bolso (1993), Perguntas Queimadas (1996), Giz de Alfaiate (2000) e, mais recentemente, 21 Haiku com Asas, Urbano e Cabras (2008) de parceria com sua filha Renata Correia Botelho e com o repetente Urbano, entre muitas outras obras dignas de registo. Está ainda representado em várias antologias e colaborou com diversas revistas literárias.
Como não podia deixar de ser, estive presente na sessão de autógrafos e atrevo-me a afirmar que não me lembro de ver aquela pequena sala da Livraria SolMar tão lotada, o que é representativo do carinho e da admiração que a sociedade micaelense, e não só, nutre pelo trabalho desenvolvido por aquelas duas figuras.
Perguntam-me os leitores deste blog: mas o que é que essa apresentação tem a ver com cinema? Pois muito bem, passo a explicar. Como é habitual nestas cerimónias, o autor costuma a ler breves passagens do seu livro, tendo havido algo que me prendeu especialmente a atenção e que descrevo com base nas palavras do próprio autor:
“No tempo do era uma vez uma cidade…, em ano que a memória não agarra, mas sendo uma lavada manhã de sábado, entrei no carro e dirigi-me à Matriz.
Fui picar o hábito; comprando jornais no Bureau de Turismo e, por imposição de proximidade e de qualidade, tomando um café, curto, no Mascote.
Tudo liso, acontecido ao espelho, atado no provável.
O que fez o desuso apoderar-se daquele sábado de manhã aconteceu, algum tempo depois, no meu regresso a casa.
Sensivelmente a meio da Rua dos Mercadores, estacionei o carro e fui em busca dos meus olhos no retrovisor… Eu passara por um rosto que me era familiar embora, fisicamente, nunca tivéssemos estado à distância do tacto.
Esperei uns segundos e olhei à esquerda. Ao ver o espanto a contornar a minha face, um casal parou. Ela sorriu um sorriso lindo, ele quedou-se num ténue esboço de simpatia e, encostando no peito o seu chapéu de palha, disse-me: “- yes, that’s me!”.
Como que algemado pelo espanto, enrolei na voz umas curtas frases de acolhimento, liguei o carro e arranquei.
Por curtos instantes eu estivera a metro e meio de distância do actor Peter O’Toole, esse Irlandês magro e de olhos claros a quem o cinema deve quilómetros de luz. (…)"
Perguntam-me os leitores deste blog: mas o que é que essa apresentação tem a ver com cinema? Pois muito bem, passo a explicar. Como é habitual nestas cerimónias, o autor costuma a ler breves passagens do seu livro, tendo havido algo que me prendeu especialmente a atenção e que descrevo com base nas palavras do próprio autor:
“No tempo do era uma vez uma cidade…, em ano que a memória não agarra, mas sendo uma lavada manhã de sábado, entrei no carro e dirigi-me à Matriz.
Fui picar o hábito; comprando jornais no Bureau de Turismo e, por imposição de proximidade e de qualidade, tomando um café, curto, no Mascote.
Tudo liso, acontecido ao espelho, atado no provável.
O que fez o desuso apoderar-se daquele sábado de manhã aconteceu, algum tempo depois, no meu regresso a casa.
Sensivelmente a meio da Rua dos Mercadores, estacionei o carro e fui em busca dos meus olhos no retrovisor… Eu passara por um rosto que me era familiar embora, fisicamente, nunca tivéssemos estado à distância do tacto.
Esperei uns segundos e olhei à esquerda. Ao ver o espanto a contornar a minha face, um casal parou. Ela sorriu um sorriso lindo, ele quedou-se num ténue esboço de simpatia e, encostando no peito o seu chapéu de palha, disse-me: “- yes, that’s me!”.
Como que algemado pelo espanto, enrolei na voz umas curtas frases de acolhimento, liguei o carro e arranquei.
Por curtos instantes eu estivera a metro e meio de distância do actor Peter O’Toole, esse Irlandês magro e de olhos claros a quem o cinema deve quilómetros de luz. (…)"
Ponta Delgada, na década de 1970
Para quem vive ou sobrevive nas grandes metrópoles e habitualmente está presente em festivais, cerimónias e ciclos dedicados ao cinema, naturalmente olhará para este encontro inesperado como uma ocorrência comum e até banal. Contudo, estamos a falar de princípios dos anos de 1970, na “velhinha” Rua dos Mercadores situada na remota cidade de Ponta Delgada – Ilha de S. Miguel, pertencente ao desconhecido Arquipélago dos Açores que, por sua vez, é parte integrante daquele longínquo e minúsculo país chamado Portugal…
Peter O’Toole, com mais de 50 anos de carreira e nomeado sete vezes ao Óscar, tem impressionado plateias de todo o mundo com o seu prolífero talento e boa aparência, recebendo pela Academia, em 2003, um Óscar honorário por ter oferecido ao cinema alguns dos seus mais memoráveis personagens.
Dito isto, posso afirmar que ontem tive a honra de cumprimentar a pessoa cujos ouvidos ouviram e cujos olhos viram um dos maiores clássicos actores do cinema.
Já agora, Sr. Emanuel, que história é aquela com o John Wayne?!
Dito isto, posso afirmar que ontem tive a honra de cumprimentar a pessoa cujos ouvidos ouviram e cujos olhos viram um dos maiores clássicos actores do cinema.
Já agora, Sr. Emanuel, que história é aquela com o John Wayne?!
3 comentários:
grande peter heheh
aii fiz a eleiçao dos piores atores uashaus
http://publicandobr.blogspot.com
O inquirido diz que te contará a história em breve. Mas não é tão emocionante como este encontro, em plena baixa pontadelgadense!
Gracias pelo post!
Tive pena de não poder ter estado na Livraria Solmar para o lançamento do livro, mas posso dizer que este senhor é um SENHOR!!!
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