quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Último filme visionado: La Mariée Était En Noir


LA MARIÉE ÉTAIT EN NOIR (1968) de François Truffaut

Uma homenagem ao cinema de Alfred Hitchcock, apesar do realizador focalizar-se mais na conduta da protagonista do que propriamente no efeito suspense do enredo. Uma película recheada de surpresas visuais e narrativas, onde a atenção ao pormenor desaba numa subtil ironia ao bom estilo do cinema noir.
(7,5/10)

Último filme visionado: Wall-E

WALL-E (2008) de Andrew Stanton

Afectivo e apocalíptico, familiar e criativo, audaz e tradicional, este filme de animação retém a sua robustez ao abarcar todas as contradições que podiam destruir uma outra qualquer película. Faz recordar, por vezes, a arquitectura majestosa de 2001: A Space Odyssey, a obra-prima de Kubric, introduzindo uma frescura e acessibilidade capaz de cativar todo o género de audiências. Uma menção honrosa para a imaginária visão sobre o futuro estilo de vida da humanidade, cada vez mais agarrada às novas tecnologias e à existência sedentária.
(8,5/10)

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Banda Sonora da Semana # 7

Apresento aqui um tema tocado de maneira muito suave e nostálgica. Ao fazer lembrar uma bonita tarde de Outono, saboreia-se a harmonia existente entre o oboé e as cordas que desliza como se fosse levada pelo vento. A que filme pertence?

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

The Age of Innocence

Apesar de não ter estado presente na sessão “Ler Cinema – À Volta de Livros e Filmes”, promovida pela Livraria Solmar, o tema da mesma recordou-me a adaptação ao grande ecrã de uma obra vencedora do prémio Pulitzer e publicada em 1920 por Edith Wharton. Tive a oportunidade de ler este romance antes da estreia do filme de Martin Scorsese, The Age of Innocence, em 1993.

O cenário de fundo é o da sociedade nova-iorquina do século XIX, para onde regressa a Condessa Olenska (Michelle Pfeiffer), separada do marido europeu. A personalidade desta mulher vai perturbar Newland Archer (Daniel Day Lewis), noivo da doce e sensível May Welland (Winona Ryder). A narrativa traça-nos uma comunidade hipócrita, cujas convenções atingem pessoas inocentes. As descrições são pormenorizadas, os diálogos profundos e as emoções projectadas com intensidade. Atrevo-me a afirmar que é um romance cruel e violento.

Scorsese não desiludiu, passou a prova de um filme de época e presenteou-nos com uma espantosa adaptação do romance. Nada foi descurado: a reconstituição histórica, os objectos, os cenários, o guarda – roupa e, principalmente, as nuances dramáticas de cada personagem. O resultado é uma autenticidade quase irreal e doentia.
A propósito, a revista Premiere considerou que este filme possui uma das mais sensuais cenas de cinema que não envolvem sexo, protagonizada por Michelle Pfeiffer e Daniel Day Lewis.

Escrito por Raquel Roque
Fevereiro 2009

domingo, 22 de fevereiro de 2009

O lado negro da cerimónia…

(...) Aconteça o que acontecer, a cerimónia deste ano já está marcada pela crise económica e pela preocupação da Academia em contrariar a crescente quebra de audiências da cerimónia nos últimos anos, a perda de dois dos seus maiores anunciantes este ano (a General Motors e a L'Oréal), e a baixa de preços da publicidade transmitida nos intervalos do espectáculo pela ABC, a estação que tem o exclusivo dos Óscares.

Daí a preocupação em encurtar radicalmente a cerimónia deste ano (a de 2008, que durou três horas e meia, foi a menos vista desde 1974), a omissão dos apresentadores dos premiados e as várias "surpresas" anunciadas pela Academia, que poderão incluir um número musical de abertura coreografado por Baz Luhrmann e interpretado pelo novo apresentador, o australiano Hugh Jackman (...).

Texto publicado por Eurico de Barros no Diário de Notícias, a 22 de Fevereiro de 2009.

O ridículo do cinema norte-americano (Parte 6)

As coisas que não saberíamos se não existisse o cinema norte-americano:

- Muitos instrumentos musicais, especialmente os acordeões e os de sopro, podem ser tocados sem mover os dedos.

- As armas de fogo são como as lâminas de barbear descartáveis: quando se fica sem balas, joga-se a arma fora. Pode-se sempre comprar outra.

- É sempre possível estacionar o carro em frente ao edifício que se visita.

- Em vez de gastarem balas, os vilões psicopatas preferem matar os protagonistas através de dispositivos complicados que envolvem rastilhos, roldanas, gases tóxicos, lasers e tubarões, permitindo que os seus prisioneiros tenham pelo menos 20 minutos para fugir.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Livraria Solmar: flashback de uma sessão


Penso que não há muito a acrescentar àquilo que foi dito pelo Sam do Keizer Soze’s Place, a propósito da sessão “Ler Cinema” promovida pela Livraria Solmar. A tertúlia foi sem dúvida muito agradável e produtiva, ao contemplar a presença de um trio brilhante de comunicadores e uma plateia bastante interventiva e animada. Aguardo sinceramente a repetição destes momentos de reunião entre cinéfilos micaelenses. Acima de tudo, foi muito gratificante conversar com pessoas que partilham a minha / vossa paixão e uma honra conhecer pessoalmente o anónimo administrador do Keizer Soze’s Place, a maior referência da blogosfera açoriana sobre a 7ª arte.
Dito isto, reúno alguns comentários proferidos naquele evento e que mereceram a minha especial atenção, optando por não citar os seus autores pois o mais importante aqui é o conteúdo e o significado dos mesmos, independentemente de concordarmos ou não com eles:

- “Ler, só por si, é um exercício cinematográfico”

- “ A leitura é mais exigente em termos de tempo do que o cinema”

- “A literatura e o cinema são mundos incomparáveis”

- “O filme deverá ir sempre mais além do livro”

- “Uma adaptação é um exercício de criatividade”

- “O nosso olhar sobre um filme altera-se conforme o contexto do seu visionamento”

- “Os grandes estúdios abraçaram o cinema independente”

- “O cinema virou-se para a venda da pipoca”

- “Não li o livro, não vi o filme, e não gostei”

Uma palavra de agradecimento para os promotores da iniciativa, os proprietários da Livraria Solmar. Os maiores sucessos!

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Doubt: as primeiras críticas

Se há filme que tem despertado a minha curiosidade nos últimos tempos é Doubt. Com cinco nomeações aos Óscares da Academia, quatro delas nas categorias das interpretações, esta película foi recebida de uma forma algo distante pela crítica especializada. Pelo que tenho lido, os consensos têm sido poucos, levando a crer que se trata daqueles filmes que dividem multidões e provocam o chamado efeito “amor/ódio”. No entanto, com um elenco desta qualidade, especialmente o duo protagonista (Meryl Streep e Philip Seymour Hoffman), e com um argumento que assenta num tema deveras estimulante e provocatório, será quase uma “infracção cinematográfica” evitar o seu visionamento. Ora vejamos quais foram as primeiras reacções da crítica americana especializada:

“Cinematically, Doubt is something of a dud. But if it remains a play, it's an ingeniously structured one, with smart, thought-provoking words spoken by fabulous actors.” By Dana Stevens (Slate)

“The film is nothing if not provocative.” By Kirk Honeycutt (The Hollywood Reporter)

“Just when you begin to think you know who the cat and mouse really are, in steps Viola Davis to steal not just her scene but the entire movie from Streep.” By Ann Hornaday (Washington Post)

“As a consideration of faith and propriety, the movie never managed to boil my blood or break my heart.” By Wesley Morris (Boston Globe)

“Shanley seems to have lost a certain amount of faith in what he'd written. As a director he's ended up pushing the drama harder than he needs to.” By Kenneth Turan (Los Angeles Times)

“A feast of great acting, although in the final analysis it's a filmed stage play rather than a brilliant movie.” By Lou Lumenck (New York Post)

Sítio Oficial: http://www.doubt-themovie.co.uk/

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Benjamin Button: da velhice à juventude

Bem sei que este filme tem sido dissecado e analisado até ao ínfimo pormenor. A crítica é unânime ao reconhecer a sua qualidade cinematográfica, tanto ao nível da realização, das interpretações e da fotografia, como também, e principalmente, ao nível do argumento e da excelente caracterização dos personagens principais.
Todavia, tenho notado que aqueles poucos que revelam possuir um juízo “menos” positivo acerca da fita, assentam a sua ideia na discrepância bem patente entre o ritmo da história durante a velhice e durante a juventude de Benjamin Button. Por isso mesmo, costumo ouvir frequentemente que “a segunda parte do filme é muito melhor do que a primeira”. Devo dizer que, apesar de aceitar essa ideia, não posso concordar com ela.

Do meu ponto de vista, as mudanças de ritmo foram propositadamente introduzidas pelo realizador com o intuito de melhor espelhar as várias etapas da idade do protagonista. Ou seja, ao falar universalmente da vida, é natural que na velhice tudo aconteça de uma forma compassada, introspectiva e vagarosa, assim como também faz sentido que a juventude se desenrole de uma forma activa, rápida e até vigorosa.
Nestes pormenores revelam-se os grandes filmes…

Ler Cinema na Livraria SolMar

Espero não ser processado por tomar a liberdade de enviar este convite a todos os meus leitores residentes em S. Miguel. Trata-se de mais uma nobre iniciativa da Livraria SolMar, desta vez dedicada aos livros e ao cinema. Os meus parabéns à organização do evento!

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Último filme visionado: Flashbacks Of a Fool

FLASHBACKS OF A FOOL (2008) de Baillie Walsh

Com um argumento medíocre, ao retratar dois momentos temporais integralmente divergentes, este filme é visualmente impressionante e melancólico, possuindo ápices únicos do grande cinema dramático. Apesar disso, e tal como o protagonista, a película no seu todo apresenta-se francamente vazia, ao abordar temas como a tentação, a culpa e a redenção de um modo pouco coerente e inconsequente. Uma palavra muito positiva para a interpretação de Daniel Craig.
6,5/10

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Lucros previstos para WATCHMEN?!

Durante estes últimos dias que estive ausente por motivos profissionais e, infelizmente, sem acesso à internet, aproveitei a oportunidade para acelerar as minhas leituras no que à imprensa cinematográfica (em suporte papel) diz respeito. Na minha opinião, uma revista que deve servir de referência para qualquer cinéfilo, com destreza na língua inglesa, é a EMPIRE: talvez “The Worlds’s Biggest Movie Magazine”, como a própria se intitula.

No seu número 237 (Fevereiro 2009), há um artigo – “20 to watch in 2009” – que me chamou especial atenção e interesse, ao abordar e dissecar alguns filmes que se avizinham importantes nos próximos dez meses deste ano. À primeira vista, e no que concerne a esta temática, muitos pensarão na quantidade de artigos, crónicas e opiniões que abundam e sobrecarregam, no princípio de cada ano, a imprensa especializada em cinema. Contudo, o artigo vai mais longe ao apontar os respectivos orçamentos e rendimentos previstos, em dólares, para cada película. Resolvi desta forma trazer aqui esses números, calculando ainda os lucros estimados, e fazer um comentário informal, até ingénuo, sobre cada um deles com o intuito de provocar algum debate:

HARRY POTTER AND THE HALF-BLOOD PRINCE
Orçamento: $170.000.000
Receita prevista: $950.000.000
Lucro: $780.000.000
Comentário: Este filão ainda não terminou? Já não tenho pachorra para tanto Harry Potter

TRANSFORMERS 2: REVENGE OF THE FALLEN
Orçamento: $200.000.000
Receita prevista: $800.000.000
Lucro: $600.000.000
Comentário: Michael Bay, o esbanjador de dinheiro. Oxalá valha a pena pelos efeitos especiais e pela acção…


ANGELS & DEMONS
Orçamento: $130.000.000
Receita prevista: $600.000.000
Lucro: $470.000.000
Comentário: Depois do péssimo The Da Vinci Code (2006) adivinho outra peregrinação às salas de cinema… Ao menos, parece que Tom Hanks mudou de Cabeleireiro.


LAND OF THE LOST
Orçamento: $100.000.000
Receita prevista: $550.000.000
Lucro: $450.000.000
Comentário: Não acredito nestes números! Será que alguém vai dar tanta importância a mais este remake? Sim, pode surpreender…


SHERLOCK HOLMES
Orçamento: $80.000.000
Receita prevista: $500.000.000
Lucro: $420.000.000
Comentário: Com o elenco escolhido não me admiro nada se for um grande sucesso! De qualquer modo, ainda vivo a nostalgia de Jeremy Brett como Serlock Holmes na famosa série da BBC dos anos de 1980 / 1990.


PUBLIC ENEMIES
Orçamento: $80.000.000
Receita prevista: $400.000.000
Lucro: $320.000.000
Comentário: Os nomes Jonnhy Depp e Christian Bale não são suficientes para chamar mais público? Parece-me que sim!


THE WOLFMAN
Orçamento: $85.000.000
Receita prevista: $300.000.000
Lucro: $215.000.000
Comentário: Isto é o que se chama ganhar dinheiro à custa de baixos orçamentos e de remakes!

INGLOURIOUS BASTERDS
Orçamento: $70.000.000
Receita prevista: $200.000.000
Lucro: $130.000.000
Comentário: Parece-me pouco tendo em conta a elevada reputação do realizador e do actor principal.


WATCHMEN
Orçamento: $150.000.000
Receita prevista: $280.000.000
Lucro: $130.000.000
Comentário: Devem estar a brincar com a minha cara… Então não é este o blockbuster mais esperado do ano?! Não é este filme que anda na boca de quase todos os cinéfilos e nas páginas de quase todos os blogues nacionais e internacionais dedicados ao cinema? Não é esta a película que vem revolucionar a abordagem da transposição da BD para o cinema, aproveitando o sucesso de The Dark Knight?! Façam o favor de refazer as contas…

FAST & FURIOUS 4
Orçamento: $80.000.000
Receita prevista: $200.000.000
Lucro: $120.000.000
Comentário: O regresso do elenco original, o regresso das grandes bombas automóveis, o regresso da camada adolescente à sala escura…

GREEN ZONE
Orçamento: $80.000.000
Receita prevista: $200.000.000
Lucro: $120.000.000
Comentário: Estou com boas expectativas para este filme. Matt Damon está no auge da sua carreira e junta-se novamente ao realizador Paul Greengrass (da saga Bourne).


THE IMAGINARIUM OF DR. PARNASSUS
Orçamento: $30.000.000
Receita prevista: $150.000.000
Lucro: $120.000.000
Comentário: Vamos todos ao cinema prestar um último tributo a este grande e promissor actor que foi o Heath Ledger. Com sorte aumentamos a receita…


DUPLICITY
Orçamento: $80.000.000
Receita prevista: $200.000.000
Lucro: $120.000.000
Comentário: Novamente um lucro de $120.000.000? Parece de propósito... Chamem a entidade reguladora!


THE INTERNATIONAL
Orçamento: $80.000.000
Receita prevista: $175.000.000
Lucro: $95.000.000
Comentário: Sinceramente, não sei o que dizer. Só comecei a ouvir falar deste filme muito recentemente. A dupla de protagonistas promete!



THE TAKING OF PELHAM 123
Orçamento: $100.000.000
Receita prevista: $180.000.000
Lucro: $80.000.000
Comentário: Denzel Washington merecia mais, não fosse um dos melhores actores da actualidade. Outro remake de um grande filme!


KICK-ASS
Orçamento: $70.000.000
Receita prevista: $150.000.000
Lucro: $80.000.000
Comentário: Quê?!

THE SOLOIST
Orçamento: $60.000.000
Receita prevista: $130.000.000
Lucro: $70.000.000
Comentário: Por aquilo que oiço prevejo um filme de grande qualidade…


WHERE THE WILD THINGS ARE
Orçamento: $80.000.000
Receita prevista: $150.000.000
Lucro: $70.000.000
Comentário: A primeira vez que leio sobre este filme. O elenco contempla Games Ganfolfini (The Sopranos) e Forest Whitaker.


STATE OF PLAY
Orçamento: $60.000.000
Receita prevista: $100.000.000
Lucro: $40.000.000
Comentário: Devem estar doidos! Então não é este o filme que fez Russel Crowe desistir de protagonizar o Australia?


SYNECDOCHE, NEW YORK
Orçamento: $21.000.000
Receita prevista: $10.000.000
Lucro: ($11.000.000)
Comentário: Se não dá lucro, então deve ser um grande filme!!! Podem contar comigo!

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Ausência...

Por motivos profissionais, estarei ausente entre os dias 11 e 15 de Fevereiro. Bom cinema!

Gafes do Cinema

Afinal, também os camponeses e os soldados medievais usavam calças de ganga...

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Banda Sonora da Semana #6

Tema musical com sonoridade típica dos anos de 1980. A que filme pertence?

Último filme visionado: Appaloosa


APPALOOSA (2008) de Ed Harris
Um bom filme de entretimento com todos os elementos do Western clássico: duelos poeirentos, tiroteios desenfreados, vilões repelentes, vastas paisagens, diálogos duros e sarcásticos. Boas interpretações de uma dupla de protagonistas emblemática.
7/10

domingo, 8 de fevereiro de 2009

O ridículo do cinema norte-americano (Parte 5)

As coisas que não saberíamos se não existisse o cinema norte-americano:

- Ao pequeno-almoço, as mães fazem sempre ovos e bacon para a família, mesmo que ninguém nunca tenha tempo para comer;

- Os camponeses e os soldados medievais tinham dentes perfeitos;

- Não importa que se esteja em desvantagem numérica numa luta que envolva artes marciais. Numa atitude ameaçadora, os adversários esperam pacientemente para atacar um a um, até que o seu predecessor esteja no chão;

- Independentemente dos estragos que uma nave espacial sofra durante um ataque, o sistema de gravidade interno nunca é afectado.

Último filme visionado: The Curious Case Of Benjamin Button

THE CURIOUS CASE OF BENJAMIN BUTTON (2008)
de David Fincher
8,5/10

sábado, 7 de fevereiro de 2009

O inesperado encontro de Emanuel Jorge Botelho

O livro “30 Crónicas”, de Emanuel Jorge Botelho, foi lançado ontem na Livraria SolMar Artes & Letras, em Ponta Delgada. De pequenas dimensões e com edição da Publiçor, Editores, o livro é composto por 30 textos, publicados no semanário Terra Nostra, entre Fevereiro de 2006 e Setembro de 2008, e intercalados por três desenhos inéditos do conhecido e reputado pintor Urbano.

Para quem desconhece, Emanuel Jorge Botelho nasceu em Ponta Delgada a 11 de Agosto de 1950, tendo publicado, ao longa da sua vida, aMARgura (1979), Full Auto Shut off & ETC (1981), Poemas do Arremesso ou O Elogio da Pedra (1982), Cesuras (1982), Sardas & ETC (1984), Casos de Bolso (1993), Perguntas Queimadas (1996), Giz de Alfaiate (2000) e, mais recentemente, 21 Haiku com Asas, Urbano e Cabras (2008) de parceria com sua filha Renata Correia Botelho e com o repetente Urbano, entre muitas outras obras dignas de registo. Está ainda representado em várias antologias e colaborou com diversas revistas literárias.

Como não podia deixar de ser, estive presente na sessão de autógrafos e atrevo-me a afirmar que não me lembro de ver aquela pequena sala da Livraria SolMar tão lotada, o que é representativo do carinho e da admiração que a sociedade micaelense, e não só, nutre pelo trabalho desenvolvido por aquelas duas figuras.
Perguntam-me os leitores deste blog: mas o que é que essa apresentação tem a ver com cinema? Pois muito bem, passo a explicar. Como é habitual nestas cerimónias, o autor costuma a ler breves passagens do seu livro, tendo havido algo que me prendeu especialmente a atenção e que descrevo com base nas palavras do próprio autor:

“No tempo do era uma vez uma cidade…, em ano que a memória não agarra, mas sendo uma lavada manhã de sábado, entrei no carro e dirigi-me à Matriz.
Fui picar o hábito; comprando jornais no Bureau de Turismo e, por imposição de proximidade e de qualidade, tomando um café, curto, no Mascote.
Tudo liso, acontecido ao espelho, atado no provável.
O que fez o desuso apoderar-se daquele sábado de manhã aconteceu, algum tempo depois, no meu regresso a casa.

Sensivelmente a meio da Rua dos Mercadores, estacionei o carro e fui em busca dos meus olhos no retrovisor… Eu passara por um rosto que me era familiar embora, fisicamente, nunca tivéssemos estado à distância do tacto.
Esperei uns segundos e olhei à esquerda. Ao ver o espanto a contornar a minha face, um casal parou. Ela sorriu um sorriso lindo, ele quedou-se num ténue esboço de simpatia e, encostando no peito o seu chapéu de palha, disse-me: “- yes, that’s me!”.

Como que algemado pelo espanto, enrolei na voz umas curtas frases de acolhimento, liguei o carro e arranquei.
Por curtos instantes eu estivera a metro e meio de distância do actor Peter O’Toole, esse Irlandês magro e de olhos claros a quem o cinema deve quilómetros de luz. (…)"

Ponta Delgada, na década de 1970

Para quem vive ou sobrevive nas grandes metrópoles e habitualmente está presente em festivais, cerimónias e ciclos dedicados ao cinema, naturalmente olhará para este encontro inesperado como uma ocorrência comum e até banal. Contudo, estamos a falar de princípios dos anos de 1970, na “velhinha” Rua dos Mercadores situada na remota cidade de Ponta Delgada – Ilha de S. Miguel, pertencente ao desconhecido Arquipélago dos Açores que, por sua vez, é parte integrante daquele longínquo e minúsculo país chamado Portugal…

Peter O’Toole, com mais de 50 anos de carreira e nomeado sete vezes ao Óscar, tem impressionado plateias de todo o mundo com o seu prolífero talento e boa aparência, recebendo pela Academia, em 2003, um Óscar honorário por ter oferecido ao cinema alguns dos seus mais memoráveis personagens.
Dito isto, posso afirmar que ontem tive a honra de cumprimentar a pessoa cujos ouvidos ouviram e cujos olhos viram um dos maiores clássicos actores do cinema.
Já agora, Sr. Emanuel, que história é aquela com o John Wayne?!

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Sondagem #3

"Bond, James Bond." É assim que se apresenta o famoso personagem do escritor Ian Fleming, criado em 1953. O espião britânico James Bond, também conhecido como 007, apareceu em muitos romances, mas foi na pele do actor Sean Connery – o primeiro a vivê-lo nas telas – que o personagem adquiriu os traços inconfundíveis que o tornaram um dos maiores sucessos da história do cinema.
Por esta razão, e por muitas outras, iniciei neste espaço a terceira sondagem cujo objectivo era precisamente perceber a opinião dos meus leitores sobre os filmes desta mítica saga protagonizados pelo reputado actor escocês. Assumo que a escolha não era fácil…

Como quase todos sabem, ou pelo menos deveriam saber, o Bond de Sean Connery é um homem alto, moreno, de olhar penetrante, porte atlético e sedutor, apreciador de Vodka-Martini (batido, não mexido), exímio atirador com licença para matar e perito em artes marciais. Trabalha ao serviço do governo de Sua Majestade, sempre com charme, elegância e cercado de belas mulheres. Atrevo-me a dizer que foi Connery que fixou a personalidade, os gestos e o inconfundível modo de falar de James Bond, muitas vezes replicados nas interpretações dos seus sucessores.

Com base nos resultados da sondagem (ver barra lateral), e como já era de esperar, as três primeiras películas continuam a ser as preferidas do público, contudo devo expressar a minha surpresa pelo facto de Thunderball não ter recebido qualquer voto (a sequência da batalha subaquática foi talvez uma das mais difíceis e, ao mesmo tempo, uma das mais notáveis cenas da história do cinema).

Goldfinger (1964), o filme vencedor, e a minha escolha pessoal, pode ser considerado como o 007 definitivo da era de Sean Connery, estabelecendo os alicerces para a constituição de uma saga sem precedentes e que ainda hoje sobrevive. É também uma das mais harmoniosas e sofisticadas fitas do famoso espião, aparecendo os primeiros automóveis potentes, mais especificamente o Auston Martin. O elenco é extraordinário, especialmente o vilão, cujo carisma transborda do ecrã. Nasce igualmente a faceta irónica e humorística do protagonista, ao contrário da mais obscura e séria apresentada nos dois primeiros filmes. Por último, revela-se os primeiros gadgets dignos desse nome, cimentando-se, por essa razão, a importância de Q como uma figura icónica.

Dito isto, só me resta deixar um desabafo: quem me dera todos os filmes de James Bond fossem assim…

SINOPSE: Desde o som de explosão de uma bomba, às portas de um excitante clube nocturno, na abertura, até uma fuga de último minuto do jacto privado do Presidente, a terceira aventura no acrã de James Bond é uma corrida vigorosa e de ritmo alucinante! Sean Connery regressa como Agente 007 e vê-se perante um vilão maníaco, decidido a destruir todo o ouro existente no Fort Knox – apagando a economia do mundo inteiro!