segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

A favor de M. Night Shyamalan


À semelhança da minha amiga Renata Botelho, a minha querida esposa Raquel Roque, também ela uma grande apreciadora de cinema, resolveu fazer parte dos colaboradores que, frequentemente (espero eu), irão deixar aqui algumas considerações cinéfilas. Com esta nova “bengala”, antevejo uma maior diversificação do conteúdo do blogue e, consequentemente, o aumento do debate no futuro.
Para a sua primeira publicação, a Raquel optou por fazer um apanhado do trabalho realizado pelo controverso e frequentemente questionável Shyamalan. Devo confessar que aprecio imenso as obras deste realizador, apesar das desilusões que, no meu parecer, foram os seus dois últimos filmes. Sem mais palavras, deixo aqui o texto enviado:


Há pouco tempo dei conta de que já vi quase todos os filmes de Manoj Nelliyattu Shyamalan, desde o fabuloso The Sixth Sense (1999). Mais ainda, faço sempre questão de estar mais ou menos atenta ao próximo filme que este indiano realiza e escreve. E foi então que me apercebi que este facto é estranho: a apreciação cinéfila não tem sido muito generosa com Shyamalan e muita gente viu no filme Lady In The Water (2006) uma resposta a algumas dessas críticas. Também não sou, nem nunca fui, uma grande admiradora de temas como os abordados nos seus filmes... Mas a verdade é que devo dizer que aprecio quase todas as películas de M. Night Shyamalan.
Não considero Shyamalan nenhum génio, mas não posso negar que tem sido um realizador original e astuto. Parece não estar preocupado em agradar a indústria americana, ao realizar e escrever filmes difíceis de enquadrar em categorias pré-definidas. Demonstra, ainda, ter uma certa independência na produção dos filmes.
Quem não se recorda do The Sixth Sense (1999), um filme que, assim que termina, apetece logo rever? Nomeado para seis óscares, incluíndo melhor realizador e melhor argumento original, foi com esta obra que o realizador saiu do anonimato (Praying With Anger (1992) e Wide Awake (1995) são desconhecidos do grande público).
Segue-se em 2000 Unbreakable, o único filme que ainda não vi. Nesta película, o realizador aborda outro tema pelo qual afirma ser um apaixonado: a banda desenhada. Embora com um final mais sereno do que o do sucesso de 1999, este trabalho parece ter, igualmente, um incrível desfecho. Com Signs (2002), o indiano consegue criar no espectador uma tensão durante todo o filme e nem precisa de mostrar os ET’s para criar, em nós, o medo do desconhecido.


Em 2004, Shyamalan presenteia-nos com aquele que encaro ser o seu segundo melhor filme: The Village. Esta história tem igualmente um final absolutamente inesperado e que nenhum espectador conseguiria adivinhar. Não me deixo influenciar pelas críticas negativas: é uma obra magnífica na fotografia, no ambiente criado, nas interpretações (Joaquin Phoenix volta a estar muito bem e Bryce Dallas Howard foi uma surpresa encantadora) e na sonoridade utilizada. A propósito, sabiam que James Newton Howard foi nomeado para um óscar pela banda sonora deste filme?


Em 2006 reconheço que Shyamalan escreveu e realizou o único filme que me desiludiu profundamente, Lady in the Water. Aliás, o indiano foi mesmo considerado o pior realizador daquele ano! Esperava muito mais e não consigo perceber o porquê de Shyamalan confessar em entrevistas que este seria o primeiro filme que salvaria se a sua casa se incendiasse … Más interpretações (onde está a Bryce Dallas Howard de 2004?), um argumento original mas mal adaptado ao grande ecrã.
Com a estreia de
The Happening (2008), Shyamalan prova, na minha humilde opinião, que a sua carreira não está a descambar, como nos fazem crer as críticas. É certo que este trabalho não tem a qualidade dos filmes anteriores a 2006, mas não concordo com tudo o que se tem dito acerca do mesmo. O realizador tem sido gozado pelo argumento, acusado de querer imitar Hitchcock, até se fala em eco-thriller (abordagem ecológica). Tirando as péssimas interpretações, como a do Mark Wahlberg, o filme consegue gerar calafrios, sem cenas de violência gratuita, aliás uma característica muito própria de Shyamalan. A tensão do filme é óptima e as cenas dos suicídios estão muito originais (não posso deixar de referir o pormenor das cenas iniciais, quando os corpos caem sem qualquer movimento. Fantástico!).
Após esta reflexão, concluo que Shyamalan tem conseguido captar o meu interesse pelo facto de nos proporcionar sempre alguma surpresa. Mesmo quando não utiliza os twisting end’s, os argumentos não deixam de ser originais. Aprecio a sua coragem de não se preocupar em fazer filmes que agradem ao mercado, e tenho gostado, a nível geral, do seu trabalho: não me preocupa perceber quais as suas intenções ou as suas motivações, mas apenas desfrutar da obra.

Raquel Roque
Dezembro 2008

6 comentários:

Filipe Machado disse...

Concordo com quase tudo o que disseste, no entanto tenho de admitir que compartilho a opinião dos críticos em relação ao The Happening. Apesar do seu intenso e enigmático início, o filme descamba completamente após a descoberta da causa das mortes... Passamos o resto da fita a ver os personagens a subir e a descer pastagens :) O efeito suspense é totalmente aniquilidado...
Parabéns, boa estreia neste blogue, que venham mais!

Unknown disse...

Olá.
Gostava de ter a tua opinião sobre o meu mais recente post acerca das primeiras obras no cinema.
Saudações.

Filipe Machado disse...

Victor Afonso, já dei uma vista de olhos no teu post, deixarei uma mensagem logo que possível. Devo dizer que já me vieram mais alguns nomes à cabeça. Já agora, convido todos os meus leitores a deixarem um comentário no referido post. Obrigado pela visita, espero continuar a contar contigo como futuro seguidor do meu humilde blogue sobre cinema. Aproveitei a oportunidade e adicionei o teu sitio aos links de interesse. Um abraço!

Anónimo disse...

Concordo plenamente com a crítica feita. Este realizador é muito substimado. Penso que é dos melhores da actualidade e tem acidentes de percurso como qualquer um... O meu filme preferido é o fantástico A Vila!! Lindo!

Renata Correia Botelho disse...

Amiga Raquel: que bom encontrar-te neste papel autoral, num texto escorreito e bem interessante.
Quanto a Shymalan, tenho de o ver (e rever). Os filmes dele de que tenho uma ideia mais presente são O Sexto Sentido (de que gostei muitíssimo) e a A Vila (do qual, confesso, saí francamente desconsolada...). Mas terei de os rever em breve, e acrescentar todos os outros, que me são ainda desconhecidos, para cujo visionamento as tuas palavras me deixaram grande curiosidade.

Loot disse...

Tenho um problema com o Sexto Sentido, contaram-me o final então não o apreciei como deve de ser.
Quanto so dois últimos, a Lady in the water não vi mas do Happening gostei.

Abraço